Morre Francisco, o primeiro papa latino-americano da Igreja Católica

 

O pontífice, que passou quase 40 dias internado neste ano, fez a última aparição pública no domingo, durante as celebrações da Páscoa


O Papa Francisco, em 3 de janeiro de 2024. Foto: Filippo Monteforte/AFP
Porto Velho, RO – Morreu nesta segunda-feira 21, aos 88 anos, o papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano. A informação foi divulgada pelo Vaticano.

Nascido Jorge Mario Bergoglio, na Argentina, Francisco tinha 88 anos e era o chefe da igreja católica desde março de 2013, quando substituiu o papa Bento 16, que renunciou ao cargo.

A morte aconteceu quase um mês após o Francisco deixar o hospital Gemelli, de Roma, por onde ficou internado por cerca de 40 dias.

“Às 7h35 desta manhã [pelo horário italiano; 2h35 em Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, anunciou o cardeal Camerlengo Farrell, da Casa Santa Marta, no Vaticano.

“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, prosseguiu o cardeal.

Situação era ‘complexa’

Entre idas e vindas, desde a primeira semana de internação, em fevereiro, os boletins médicos descreviam a situação como “complexa”. O quadro foi agravado após a bronquite que levou Francisco ao hospital evoluir para uma infecção poli-microbiana e pneumonia bilateral – quando a doença afeta ambos os pulmões.

No domingo 20 ele fez sua última aparição pública, quando, em uma cadeira de rodas, foi levado à Praça de São Pedro e abençoou uma multidão que acompanhava a celebração da Páscoa.

Trajetória até o papado

Francisco foi a 266ª autoridade religiosa da igreja católica e o 8º chefe de estado do Vaticano após suceder o Papa Bento 16 em 2013. De origem imigrante italiana, Francisco, cujo nome de batismo era Jorge Mario Bergoglio, nasceu na capital argentina Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936.

Na sua trajetória até o papado, Francisco entrou para a companhia de Jesus em 1958, aos 21 anos, tendo sido ordenado sacerdote em 1969. Entre 1973 e 1979, foi líder provinciano pela Argentina e, a partir de 1980, reitor da faculdade de San Miguel. Em 1992 foi nomeado bispo, alcançando o título de arcebispo em 1988 ao chefiar a arquidiocese de Buenos Aires.

Embora tenha sido considerado um papa progressista, em 2010, ainda como arcebispo, Francisco foi contra a adoção de um bebê por um casal de homossexuais no país e entrou em confronto direto com a então presidente Cristina Kirchner.

Antes de alcançar a liderança da igreja Católica, Francisco participou de seu primeiro conclave em 2005, quando o Vaticano elegeu o papa Bento XVI. Oito anos depois, ele saiu vitorioso do rito após a renúncia de Bento em 2013. Jorge Mario Bergoglio, foi o primeiro papa a adotar o nome de Francisco e o primeiro da América Latina.

Acolhimento aos LGBT+ e inclusão feminina na Igreja

Em seus 11 anos frente ao posto, o pontífice abordou diversos assuntos polêmicos e caros ao Vaticano, como o direito ao aborto, ao divórcio, a igualdade de gênero e até a aceitação de fiéis homoafetivos. Mesmo sem instituir mudanças na doutrina do catolicismo, Francisco colocou-se a favor da união civil entre pessoas LGBT e contra a criminalização da homossexualidade – mesmo defendendo que a prática continue sendo pecado. Em 2023 o pontífice chegou a aprovar a benção aos casais homoafetivos, desde que ‘não imite o matrimônio.

Em um pronunciamento histórico no mesmo ano, Francisco disse que mulheres trans também são ‘filhas de Deus’. À época, ele também recebeu um grupo de mulheres trans no Vaticano, frisando que todos têm o direito de se sentir acolhidos. As posições de acolhimento do público LGBT+, defendidas por Francisco, foram motivos de críticas e acusações de heresia em grande parte do Vaticano.

No Vaticano, o pontífice trabalhou pela maior participação feminina dentro da igreja católica, embora tenha se mantido contra o sacerdócio feminino. Em 2021, Francisco alterou a doutrina para permitir que mulheres pudessem ler textos e distribuir a comunhão na missa.

Ele também lutou pela maior participação popular dos fiéis nos rumos da Igreja. No mesmo ano, o pontífice realizou o maior processo de consulta popular e permitiu que 1,3 bilhão de fiéis opinassem sobre o futuro do Vaticano e da doutrina católica.

Diplomacia

Embora os feitos sociais tenham dado a Francisco o título de Papa mais ‘popular’ e diverso da história do Vaticano, o pontífice se destacou pelo papel ativo na diplomacia mundial, não se limitando ao eixo europeu. Em 2014, ele mediou as negociações que levaram ao retorno das relações comerciais entre Cuba e os Estados Unidos durante o governo de Barack Obama.

Durante a pandemia, ele também defendeu veemente a ciência e a vacinação em diversos pronunciamentos públicos, além de criticar a desinformação e o uso político da pauta. Com o estouro da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Francisco defendeu por diversas vezes o cessar-fogo e tentou mediar as negociações, ato reproduzido nos conflitos em Gaza.

Antenado aos avanços da tecnologia, Francisco também emitiu diversos alertas aos líderes mundiais sobre o uso da Inteligência Artificial como uma ferramenta capaz de remodelar a sociedade atual, mas que também apresenta grande risco no uso militar e na tomada de empregos.

Fonte: Carta Capital

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