Levante contra Portugal é comemorado em 21 de abril, dia da morte de Tiradentes
Estudo para “Prisão de Tiradentes”, óleo sobre tela de Antônio Parreiras (1910) – Museu Antônio Parreiras
Porto Velho, RO – Celebrada no dia 21 de abril, a Inconfidência Mineira foi um levante separatista liderado pela elite socioeconômica de Minas Gerais contra a cobrança de dívidas e impostos pela coroa portuguesa no fim do século 18.
Sufocada logo no início pelo governo português, a conjuração teve como um dos maiores símbolos o dentista e militar de baixa patente Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que era um dos únicos participantes de origem popular.
Ele foi enforcado, esquartejado e teve sua cabeça exibida em praça pública no dia 21 de abril de 1792.
A Inconfidência Mineira faz parte de movimentos de ensaio da Independência do Brasil em relação a Portugal, consumada apenas em setembro de 1822. Outros dois levantes de maior peso são a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817).
Influenciada pela independência dos Estados Unidos, a conjuração mineira defendia a instalação de uma república, diferente do projeto monárquico que acabou prosperando.
Também havia a ideia de emancipação de uma parte do território brasileiro, que incluiria Minas e áreas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Mas sua liderança elitista propunha poucas mudanças estruturais, ao contrário da Conjuração Baiana, cujo caráter popular se manifestava na defesa do fim da escravidão. Já a Revolução Pernambucana foi a única a tomar o poder, por breve período.
- O que foi a Inconfidência Mineira?
A Inconfidência Mineira (historiadores preferem o termo conjuração) foi um levante contra a coroa portuguesa na então capitania de Minas Gerais em 1789, com fim em 1792.
- O que motivou o levante?
Altos impostos em um momento de declínio da produção do ouro. O governador recém-nomeado, Luís da Cunha Meneses, leal à família real e conhecido por sua virulência, determinou uma cota mínima de pagamento de ouro à coroa por acreditar que a queda de arrecadação se daria por contrabando.
A conspiração também foi impulsionada pela promessa de derrama –cobrança das dívidas para cobrir o prejuízo do rei devido à queda na coleta de impostos.
Um ano antes de eclodir a Inconfidência, os mineiros deviam a Lisboa mais de oito toneladas do metal, quantidade considerada exorbitante.
- Quem participou?
Pessoas ligadas à própria administração e à extração de ouro. Latifundiários, militares, poetas, religiosos, funcionários públicos e comerciantes, ou seja, uma elite urbana que dependia da renda do ouro e estava endividada e insatisfeita com a coroa.
- Qual era o objetivo da Inconfidência Mineira?
O programa era um esboço e havia algumas divergências, como na questão da abolição da escravatura. Mas, de modo geral, pretendiam se separar de Portugal e proclamar uma república das Minas Gerais. Para isso, previam três anos de guerra defensiva contra a metrópole.
- Qual foi o contexto do movimento?
O nascimento de uma elite urbana alimentada pelos lucros do ouro, com bom acesso à cultura e com influência de ideias europeias –filhos de mineiros formavam boa parte dos alunos brasileiros em Coimbra– contribuiu para influenciar os conspiradores.
Os ideais iluministas e a independência americana serviram de inspiração para o projeto separatista. Já o declínio da produção de ouro e as cobranças cada vez maiores da coroa foi o principal estopim.
- Quem era Tiradentes?
Nascido em 1746, Tiradentes foi tropeiro, mascate, dentista (daí o apelido) e militar, chegando ao posto de alferes (subtenente) no Regimento de Cavalaria Regular. Na tropa entrou em contato com os ideais iluministas e da Revolução Americana.
- Qual foi o desfecho da Inconfidência Mineira?
O movimento foi descoberto antes de ser efetivamente implementado, em 1789, devido à delação de comerciantes em troca do perdão de suas dívidas.
A consequência foi a prisão dos envolvidos, incluindo Tiradentes, que foi o único que teve a pena de morte executada, em 1792, concluindo os atos da metrópole contra a traição planejada.
Além de esquartejar o corpo de Tiradentes e exibir sua cabeça em praça pública, seus membros foram espalhados pela Coroa no caminho do Rio de Janeiro a Minas. O gesto visava desonrar a memória do movimento e evitar que outras revoltas o tomassem como exemplo.
Fonte: Folha de São Paulo